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Edição da Manhã, SIC Notícias - O primeiro discurso oficial de Carlos III

Patricia Akester • set. 10, 2022

Hoje de manhã fui convidadas da Edição da Manhã, SIC Notícias, tendo sido entrevistada por Cláudio França: EDIÇÃO DA MANHÃ, SIC NOTÍCIAS - O PRIMEIRO DISCURSO OFICIAL DE CARLOS III.

 

A grande questão, pré-discurso, era apurar quais seriam a orientação, as traves-mestras e o «ethos» do Reinado de Carlos III. Sobretudo tendo em conta o seu percurso como Príncipe de Gales ao longo do qual revelou tendência para expressar opiniões firmes sobre múltiplos temas.

 

Exemplos destes temas são as questões climática (que Charles defende com ardor desde os anos 90) e humanitárias (em 1976 criou uma fundação denominada Prince's Trust que já prestou auxílio a quase 900.000 jovens provindos de partes mais pobres do país. A defesa das suas causas foi acompanhada do envio de cartas a ministros que questionavam a abordagem do governo a vários níveis e que lhe granjearam acusações de interferência política.

 

No entanto, Carlos III não transmitiu, ao longo do seu primeiro discurso oficial, senão grande serenidade e noção de continuidade.

 

Começou por manifestar grande afecto pela Mãe e por lhe prestar sentida homenagem. Disse que a Rainha – sua querida Mãe – era seu exemplo e fonte de inspiração e prometeu desempenhar a sua missão com o mesmo empenho, lealdade, respeito e devoção. Ou seja, com o espírito com que a Rainha o havia feito.

 

Carlos III prometeu, ainda, defender os princípios constitucionais vigentes. Sabe que o soberano deve manter neutralidade, tendo afirmado que a par da imperativa correcção constitucional não teria tempo para as causas que havia defendido pela vida fora pelo que estas ficariam nas mãos de terceiros (como o seu sucesso, Príncipe William).

 

Declarou, também, que os valores e a fé que caracterizam a monarquia britânica permaneceram e devem permanecer constantes e intactos, tendo, contudo, aflorado o tema da diversidade cultural e religiosa. Trata-se de um monarca de fé (e reiterou a sua fé no âmbito do discurso) todavia já há muito revela empenho na manutenção de diálogo inter-religioso. A sua coroação dirá até que ponto. Veremos, então, se usará (como em tempos foi referido) o título de «Defensor de Fés» em vez de «Defensor da Fé» e se assistirmos à participação de líderes religiosos que não apenas anglicanos - como sucedeu aquando do Jubileu da Rainha na Catedral de São Paulo em 2012.

 

Carlos III mencionou outrossim a família mais chegada, o que poderá ir de encontro à ideia que apenas a essa caberá o desempenho de certas funções. Referiu o Príncipe William e Catherine que terão uma missão crucial, Harry e Megan que florescerão nos EUA e Camilla que lhe fornecerá apoio vital. A Rainha já havia facilitado a questão «Camila», ao estabelecer que esta deveria usar o título de rainha consorte e não de princesa, pelo que a concessão de tal título por Carlos III não levará a um decréscimo da sua popularidade.

 

Por fim, despediu-se da Mãe com as seguintes palavras: «May flights of angels sing thee to thy rest», uma citação tocante retirada de Hamlet, Shakespeare, que invoca o grande carinho que Carlos III nutre pelas Artes e pelas Letras. E essa será, talvez, a única área em que poderá fugir benignamente ao rumo seguido pela Mãe - incentivando e apoiando a Cultura sem incorrer quebrar quaisquer princípios constitucionais.

 


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