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SIC NOTÍCIAS – Edição Especial – Funeral de Isabel II

Patricia Akester • set. 21, 2022

Participei como convidada da SIC Notícias, na emissão especial, em directo da Abadia de Westminster, sob a orientação do jornalista Augusto Madureira (dia 19 de Setembro, entre as 11 e as 11.55 da manhã).

 

Com sentida emoção, mas tentando manter um ar sereno, lá notei, entre outras coisas, o seguinte:

• O Pai da Rainha Isabel II faleceu em 1952 pelo que não temos memória de semelhante evento no RU, evento esse que seguiu os detalhes constantes da operação «London Bridge», escrita e reescrita ao longo de décadas e que previa uma sequência precisa de eventos em torno da morte da Rainha - com o claro objectivo de prestar devida e justa homenagem à Rainha e simultaneamente granjear um forte sentimento de apoio à Monarquia nos dias que antecederam o funeral, assim facilitando o processo sucessório, a continuidade da Monarquia e a autoridade ininterrupta da Casa de Windsor.

• Vieram milhares de pessoas de todos os lados para prestar homenagem à Monarca, com espírito de peregrinação, lágrimas, sacrifício e devoção. A Rainha era adorada pelo mundo fora.

• Por isso se tratou do primeiro funeral de um Monarca a ter lugar na Abadia de Westminster desde o século XIX. A Abadia encontra-se mais associada a momentos festivos. Nela tiveram lugar a coroação de todos os Monarcas desde o século XI e 16 casamentos reais desde o século XII, incluindo o da Rainha em 1947 e o do Príncipe William em 2011.

• É na Capela de São Jorge que se têm realizado os funerais dos Monarcas desde o século XIX - sendo que a Capela também albergou outros eventos reais, incluindo os casamentos de Harry com Meghan Markle e da princesa Eugenie com Jack Brooksbank. Isabel II será a 11ª Monarca a ser enterrada em tal Capela.

• Sucede que a Abadia alberga 2000 convidados enquanto a Capela apenas tem lugar para 700 convidados. Não chegava. Diz tudo.

 

Uma palavra quanto à Commonweath:

• A morte da Rainha foi marcada em toda a Commonwealth por um período de luto oficial. Contudo, há quem veja a Commonwealth como um legado do colonialismo cuja manutenção é inexplicável, surgindo o falecimento da Rainha (a cola que mantinha a Commonwealth unida) como uma oportunidade de reconfigurar o status quo para quem perfilha essa opinião.

• A sombra deixada pelo colonialismo é invocada sobretudo nas Caraíbas. A Jamaica, por exemplo, já anunciou que faria um referendo. As gerações mais novas não sentem qualquer ligação à Monarquia Britânica.

• O desagrado causado pela ligação à Monarquia Britância subsiste noutros cantos da Commonwelath, como o Canadá, sobretudo no lado francófilo. Todavia, uma vez que se encontra em causa uma Monarquia Constitucional Federal, com 11 Províncias, o processo de separação é complexo.

• Temos, depois, por exemplo, a título ilustrativo, o caso da Nova Zelândia, país no qual reina um grande apego à Coroa.

• Isto é, os sentimentos e as vontades são diferentes pela Commonwelath fora.

 

Notas finais:

• Faleceu o último símbolo de uma era de grandeza. O falecimento da Rainha representa uma ruptura definitiva com glórias passadas.

• Quando ascendeu ao trono, em 1952, existia um Império Britânico, a Grã-Bretanha era uma grande economia e Londres era o centro financeiro do mundo. Antes visto como um exemplo de estabilidade política, o RU já teve 4 primeiros-ministros em 6 anos e a taxa de inflação de 18% projectada para 2023 poderá aumentar o sentimento de agitação que teve início com o Brexit.

• Tanto o novo Monarca como a nova Primeira-Ministra herdam uma situação precária. A Rainha provou, após a queda do Império Britânico, que a Monarquia pode funcionar como crucial elemento de estabilidade, transição e dignidade, em momentos difíceis. O tempo dirá se Carlos III consegue desempenhar semelhante missão.


Rest in Peace

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